UFSCar dá a receita da conexão com o mercado
Agência de Inovação interna faz a ponte entre empresas e a universidade, que já levantou mais de R$20 milhões em royalties com suas pesquisas

Um dos grandes desafios da integração entre empresas e universidades é conseguir um ambiente de discussão com espaço para benefícios mútuos. Mas, apesar disso seguir sendo uma barreira, há exemplos de iniciativas bem sucedidas no Brasil na promoção dessa integração e a Universidade Federal de São Carlos, a UFSCar, tem promovido uma delas.
Com um trabalho que se assume como “corajoso”, a Agência de Inovação da instituição tem buscado através de eventos e outras ações a conexão com empresas e outras instituições, num trabalho que tem rendido, além de muito conhecimento e formação de pessoas, cerca de R$4 milhões anualmente em royalties só nos últimos anos.
Esses trabalhos e mais detalhes sobre a Agência foi o alvo da conversa de seu coordenador, o professor Daniel Braatz, no podcast Sala de Negócios, da GMD. Você pode acessar essa entrevista na plataforma Spotify na íntegra aqui, mas abaixo trazemos um resumo dos principais assuntos:
GMD: Vamos apresentar a Agência de Inovação da UFSCar
Braatz: Ela é uma unidade que fica ligada à Reitoria e a responsabilidade é fazer a gestão da política de inovação e da propriedade intelectual da universidade. Nosso principal papel é fazer a transferência de tecnologia das inovações e cuidar das patentes e também fazer com que elas cheguem ao mercado. Também fazemos apoio ao empreendedorismo e eventos, mas nosso carro-chefe é mesmo cuidar do que se refere à inovação dentro da UFSCar.
GMD: Falando sobre realizações, que casos podemos levantar sobre a atuação da Agência?
Braatz: Nosso primeiro licenciamento de patente foi em 2003, então temos mais de 20 anos de experiência nisso e na gestão de royalties, algo que não é bem discutido ainda no Brasil. Nos últimos 15 anos já recebemos mais de R$20 milhões em royalties e nos últimos anos temos conseguido em torno de R$4 milhões a cada ano para a instituição nessa linha. Um caso prático são as cultivares de cana de açúcar, nossas pesquisas geraram espécies que estão sendo cultivadas e que geram royalties diretos para nós. Temos também alface, pimentas, abóboras e, além disso, produtos, como um filme protetor feito de cera de carnaúba e que também está licenciado ao mercado.
GMD: Que desafios a agência enfrenta para transformar a pesquisa em inovações práticas?
Braatz: Sempre houve resistência dos dois lados quanto a isso, são mundos diferentes e que tem formas de pensar e de produzir também muito diferentes, são esses nosso maiores desafios, mas temos evoluído bastante, pois todos temos visto a importância disso tanto na formação de pessoas, que está na base das instituições de ensino, quanto na produção de pesquisa de ponta no país, algo que está ainda concentrado nas universidades. Temos também programas de instituições e do governo para isso que têm sido exitosos, como os desenvolvidos pela Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial) e pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Quanto mais avançarmos nisso, melhor ficará a situação. Nós já temos quase 100 tecnologias licenciadas ao mercado, por exemplo, e sentimos que tanto o mercado quanto os pesquisadores têm melhorado o diálogo e as ações de contribuição entre si.
GMD: O que mais tem ajudado no caso do êxitos que vocês têm conseguido?
Braatz: Acho que o principal é ter coragem para encarar esses desafios. Há questões legais e operacionais que às vezes são vistas de forma distinta pelas partes, mas quando avançamos sobre elas tudo pode ser resolvido. Não deixa de ser necessário um pouco de ousadia também, mas há instrumentos que já nos ajudam a endereçar melhor essas questões.
GMD: Falando de futuro, que planos a agência tem para seus próximos passos?
Braatz: Um aspecto fundamental da inovação é a parte social, além da tecnológica. Temos construído um diálogo entre nossa comunidade sobre como podemos impactar a sociedade que servimos, então há um plano em desenvolvimento de integração entre áreas para que possamos mapear tanto ações que já temos implantada na sociedade como novos espaços em que podemos atuar.
GMD: Como é esse diálogo com a universidade e os pesquisadores?
Braatz: Temos buscado ser proativos em buscar a comunicação com os pesquisadores da UFSCar e com outras instituições das regiões em que atuamos, inclusive com a produção de programas e eventos que são feitos para nos conectar e também para conectar o mercado. Isso tem dado resultado e muitas conexões feitas nesses eventos tem gerado contatos e interações que podem produzir uma boa integração entre nossos pesquisadores entre si e com o mercado.
GMD: Sobre o projeto do CNPQ, o MaiDai, isso tem funcionado de fato na UFSCar?
Braatz: Sim e os resultados são muito interessantes. Participamos das quatro chamadas que já foram feitas, sendo que construímos ao todo cerca de 30 parcerias com empresas de todos os portes, desde startups até multinacionais. O programa garante o pagamento de bolsas dos pesquisadores e as empresas têm uma contrapartida geralmente bem menor em termos de custos diretos, além do desembaraço que o programa sugere. Também já temos patentes surgidas dentro desse programa e muitos pesquisadores já foram contratados pelas empresas em que atuaram, então, por tudo isso, o programa, para nós, tem sido realmente exitoso.
Para fechar, alguns números da produção científica da UFSCar e da Agência de Inovação
A Agência completou 15 anos no final de 2024. Em números, ela também representa um alcance fundamental no empenho constante de fomentar a inovação na Instituição.
- Mais de 300 depósitos de patentes / mais de 100 concedidas
- Mais de 40 registros de marcas
- Mais de 70 registros de programas de computador
- Mais de 60 registros de cultivares
- Mais de 200 contratos de licenciamento
- Mais de R$ 21 milhões processados e distribuídos entre inventores, departamentos e universidade
- Mais de 40 empresas-filhas da UFSCar cadastradas
Mais informações no website da agência: https://www.inovacao.ufscar.br