Por dentro da estratégia da Royal Air Maroc no Brasil
Em entrevista exclusiva para a GMD, Othman Baba, diretor da companhia que esteve recentemente no Brasil, fala dos planos para retomar operações no país

Dizer que o Marrocos simplesmente tem uma posição estratégica para servir como hub entre o Brasil e a Europa, a África e a Ásia, seria desprezar o enorme potencial histórico, turístico e cultural que o país possui.
E para quem quiser visitar o Marrocos, que tem destinos considerados de classe mundial, como Marrakesh e Essaouira, a notícia é que os planos ficaram mais fáceis para os brasileiros com a retomada dos voos diretos entre São Paulo e Casablanca, anunciados recentemente pela companhia do país, a Royal Air Maroc.
Para falar sobre isso, a Gazeta Mercantil Digital recebeu para uma conversa exclusiva o diretor regional da empresa na América do Sul, Othman Baba, que falou sobre os planos para ocupar um espaço no mercado das rotas aéreas internacionais brasileiras.
GMD: Conte-nos um pouco sobre a situação atual da empresa e suas operações globais mais importantes.
Mr. Baba: A Royal Air Maroc (RAM) está atualmente passando por um período de expansão global e reposicionamento estratégico. Somos a companhia aérea nacional do Marrocos, com 75 anos de história, e atualmente conectamos 46 países em quatro continentes, com mais de 90 destinos.
Em 2024, fomos eleitos a Melhor Companhia Aérea da África pela US Global Traveler pelo segundo ano consecutivo. Estamos implementando um plano de crescimento que durará até 2037, com o objetivo de multiplicar os milhões de passageiros que transportamos anualmente e expandir nossa frota. Nosso foco é consolidar a Royal Air Maroc como uma companhia aérea transcontinental líder – uma ponte entre a África, a Europa, a Ásia e as Américas.
Casablanca, nosso hub, desempenha um papel central nessa estratégia: além de ser o maior aeroporto do Norte da África, possui um terminal RAM exclusivo, que garante conexões rápidas, conforto e uma experiência personalizada para quem viaja conosco.
Em 2025, também demos um passo importante no campo da sustentabilidade, com a realização do nosso primeiro voo comercial com combustível sustentável (SAF), reafirmando nosso compromisso com a aviação de baixo carbono.
GMD: Como a Royal Air Maroc avalia o potencial do mercado brasileiro para o crescimento das operações da empresa?
O Brasil é estratégico para nós por sua relevância econômica, por seu potencial turístico e pela sua posição como um dos principais emissores de passageiros da América do Sul. Já operamos seis voos semanais para São Paulo e três para o Rio de Janeiro antes da pandemia, e mesmo durante o período de suspensão, mantivemos nosso escritório local funcionando. A retomada da rota São Paulo–Casablanca-São Paulo, em dezembro de 2024, marca uma nova fase.
Hoje operamos três voos semanais diretos com o Boeing 787-900 Dreamliner, uma aeronave moderna (menos jet lag), com classe Executiva, Econômica Premium e Econômica, equipada com sistema de entretenimento e serviço completo de bordo.
O tempo de voo é de cerca de 9 horas, com saídas noturnas que otimizam o descanso e o aproveitamento da viagem. Outro diferencial importante: nossa política de bagagem permite duas malas de 23 kg na classe econômica e três de 32 kg na classe executiva, o que representa um benefício real para quem viaja a lazer ou a trabalho.
A partir de Casablanca, nossos passageiros brasileiros se conectam com eficiência a mais de 90 destinos, como Paris, Lisboa, Madri, Roma, Milão, Frankfurt, Londres, Dubai, Joanesburgo, Cairo, Nova York, Toronto, Miami e, em breve, Pequim. Também oferecemos transporte de carga e integração logística - importante para empresas que atuam entre países e continentes.
Além disso, temos investido fortemente no relacionamento com o trade turístico. Em abril, realizamos nossa primeira famtrip com agentes de viagem brasileiros, com uma imersão no Marrocos para conhecer não só a experiência de voo, mas também a estrutura do nosso hub e os atrativos do país. A resposta foi extremamente positiva.
GMD: A parceria com a Embratur foi estratégica para a Royal Air Maroc?
Sim, tem sido essencial. A Royal Air Maroc é uma das companhias parceiras do PATI - Programa de Aceleração do Turismo Internacional, coordenado pela Embratur, e a colaboração já rendeu frutos concretos. Realizamos viagens de familiarização (famtrips) com agentes de viagem da Espanha e de Portugal que conheceram a experiência de voo pela nossa companhia e diversas atrações de São Paulo capital e litoral.
Também promovemos o destino Brasil nos nossos mercados estratégicos e, recentemente, renovamos o compromisso com a Embratur assinando um novo Protocolo de Intenções durante a WTM Latin America 2025.
Nosso objetivo conjunto é aumentar o fluxo de turistas nos dois sentidos - tanto de brasileiros indo ao exterior via Casablanca, quanto de estrangeiros chegando ao Brasil por meio da nossa malha. Estamos desenvolvendo ações conjuntas de marketing, campanhas nos principais mercados europeus e fortalecendo a imagem do Brasil como destino turístico internacional.
GMD: Como a empresa está lidando com os desafios de sustentabilidade no setor de aviação, como emissões de carbono e eficiência energética?
Sustentabilidade é um compromisso fundamental para a Royal Air Maroc. Em fevereiro deste ano, em parceria com a Vivo Energy Morocco, demos um passo importante na aviação sustentável dentro do nosso plano de transição energética.
A companhia aérea operou o seu segundo voo utilizando SAF (em inglês, Sustainable Aviation Fuel), e pela primeira vez, para a Europa, entre Marraquexe e Paris, marcando uma estreia histórica para o Aeroporto Paris-Orly. Alimentado a 40% por combustível sustentável, este voo reduz significativamente as emissões de CO2 e constitui mais um marco na direção de viagens aéreas mais responsáveis.
Além disso, seguimos renovando nossa frota com aeronaves mais modernas e eficientes. O Boeing 787 Dreamliner, que opera na rota direta São Paulo-Casablanca-São Paulo, consome menos combustível e emite menos CO₂, contribuindo para a redução da pegada ambiental da companhia. Estamos alinhados com os compromissos da aviação civil internacional.
GMD: Quais tecnologias ou estratégias inovadoras estão sendo adotadas para melhorar a experiência do passageiro e a eficiência operacional?
Oferecemos uma experiência completa, desde o embarque até a chegada ao destino. Em Casablanca, operamos em um terminal exclusivo, o que reduz o tempo de conexão, melhora o fluxo de passageiros e permite um atendimento mais personalizado. Também temos acordos com hotéis e acesso a lounges para conexões mais longas.
A bordo, nossos passageiros contam com refeições completas, sistema de entretenimento, Wi-Fi, duas malas incluídas na tarifa econômica e três na executiva e um programa de fidelidade com benefícios válidos em toda a aliança Oneworld, da qual fazemos parte desde 2020 sendo a primeira companhia africana a integrar o grupo.
Nosso foco é em eficiência, conforto e conexão. E a conexão não é só aérea, é também cultural e econômica: conectamos negócios, pessoas, saberes e experiências entre África, Europa e as Américas. Dentro dessa estratégia, incentivamos o turismo no Marrocos e a experiência pela diversidade cultural e histórica de suas cidades, oferecendo um stopover de até sete dias que permite inserir o país como um destino a mais na viagem.
GMD: Você pode deixar uma mensagem para o mercado brasileiro sobre a empresa e suas operações de conexão entre o Brasil e a África, Europa e Ásia?
Queremos, sim, transportar pessoas, mas buscamos fundamentalmente fazer parte da transformação do turismo global e da conectividade internacional. E com esse espírito, convidamos o mercado brasileiro a voar conosco.
Temos orgulho de retornar ao país com uma operação estruturada e uma visão clara de crescimento. A rota São Paulo–Casablanca-São Paulo representa uma retomada, mas acima de tudo marca o início de um novo capítulo.
Nosso objetivo é aumentar gradualmente a frequência de voos, retomar as operações para o Rio de Janeiro até 2026, expandir parcerias e oferecer aos viajantes brasileiros uma rota cada vez mais conectada, competitiva e confortável. Nesse sentido, é importante destacar a possibilidade de realizar um stopover de até sete dias no Marrocos, que permite inserir o país como um destino a mais na viagem.
Para quem busca agilidade, nosso hub em Casablanca oferece mais de 90 conexões internacionais. Para quem valoriza o conforto, proporcionamos uma ótima experiência tanto a bordo quanto em terra.
E para quem deseja explorar, o Marrocos é um destino repleto de riquezas - moderno e tradicional ao mesmo tempo, com costas atlântica e mediterrânea, desertos, montanhas com picos cobertos de neve, cidades milenares e ricas em diversidade cultural.
Casablanca pode ser apenas uma parada, mas também vale muito ser vivenciada, mesmo que por poucas horas antes de uma conexão. A cidade tem atrativos suficientes seja para uma curta pausa entre voos ou para uma estadia mais longa.
Temos a famosa Mesquita Hassan II - uma das maiores do mundo -, temos mercados movimentados, cafés de inspiração francesa, restaurantes à beira-mar, enfim, é uma porta de entrada que recebe os visitantes com autenticidade e estrutura.
Em 2024, o Marrocos recebeu 17,4 milhões de turistas internacionais - mais que o dobro do número de visitantes que vieram ao Brasil no mesmo ano, apesar de o Marrocos ter um território quase 19 vezes menor que o brasileiro.
Esses resultados não são coincidência: são fruto de investimentos consistentes em infraestrutura turística, conectividade e promoção internacional, e a Royal Air Maroc desempenha um papel central nesse sucesso.
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