Bella da Semana faz planos para ir além do posto de sucessora da Playboy
Publicação masculina amplia seu modelo de negócio e quer ampliar sua base com público mais jovem

Quando uma das publicações mais icônicas do mercado editorial mundial, a Playboy, anunciou que desligaria suas máquinas, estava claro que o declínio do universo das revistas masculinas como se conhecia estava chegando ao fim.
Mas, eis que surge, no Brasil, uma publicação que mantinha a mesma “pegada” e que segue fazendo sucesso quase duas décadas após a última cena da Playboy: o Bella da Semana.
Ainda que não tenha a mesma repercussão da tradicional revista americana, que circulou também no Brasil, sempre fazendo muito barulho, entre 1975 e 2018, a publicação tem um público cativo, com mais de um milhão de acessos mensais, segundo a empresa.
Para saber mais sobre essa jornada de desenvolvimento e consistência, mesmo na esteira de fracassos e recuperações judiciais (no caso, da Editora Abril, responsável pela Playboy no Brasil), a Gazeta Mercantil Digital conversou com exclusividade com Alexandre Peccin, CEO da publicação, que falou dos bastidores de negócio do Bella, como é carinhosamente chamado por ele.
A entrevista na íntegra está no podcast Sala de Negócios, na plataforma Spotify, e pode ser acessada aqui. Abaixo, um resumo de nossa conversa:
GMD: Como as questões culturais sobre a nudez feminina impactaram e guiam o modelo de negócio e os fundamentos da publicação?
Alexandre: Essa questão cultural é realmente forte. Inclusive temos um público que nos ama e outro que nos odeia, praticamente não existe meio termo. Mas conseguimos superar isso e chegamos aos 24 anos de vida, acho que isso prova que o caminho está certo, pois contamos com um público que entendeu nossa proposta, apesar dessas questões culturais sempre estarem presentes.
GMD: A hipocrisia sobre esse tema foi criticada na década de 1970 por Nelson Rodrigues na peça “Toda nudez será castigada”. Você acha que isso ainda existe entre os críticos do Bella?
Alexandre: Com certeza isso ainda existe, tanto no Brasil quanto nos EUA. Ganhamos na justiça uma ação da Meta, por exemplo,que tirou nossas contas do ar, mas eles não retornaram com nosso acesso, mas fazem a mesma coisa que fazemos e publicam imagens sensuais de mulheres para atrair audiência. Então aqui está uma prova dessa hipocrisia, que acontece também com muita gente em nossa sociedade.
GMD: Hoje temos a naturalização da nudez feminina. O produto que vocês tem é uma consequência disso?
Alexandre: Acho que sim e isso tem muito haver com o que o Hefner (criador da Playboy) fez, pois ele conseguiu, com muita insistência, mostrar que a nudez podia ser vista como natural. Na Europa a cultura é diferente e acho que a nudez lá é encarada de forma muito mais natural.
GMD: Como vocês navegam nessa linha tênue entre a nudez feminina e a produtização da mulher?
Alexandre: Isso está no DNA do Bella, pois trabalhamos na beleza e na qualidade total. Vejo alguns concorrentes e avalio que são mais pornográficos, então isso é o que evitamos, pois o que queremos mostrar é a beleza feminina, além de assuntos de interesse do público masculino.
GMD: A Playboy é uma referência nesse mercado, mas fecharam as portas alegando que o modelo de negócio não era mais viável. O que essa história ensinou a vocês?
Alexandre: Ensinou que precisamos estar sempre nos atualizando. Eles demoraram a entrar no mundo digital, por exemplo, então perderam o ritmo, a linguagem desse novo ambiente. Outra coisa que pesou muito foi a pirataria, então estamos muito bem munidos de ferramentas para identificar quem faz pirataria com nossos produtos. Acho que ninguém no mundo tem nada parecido com isso.
GMD: A Editora Abril, que publicou durante muito tempo a Playboy no Brasil, faliu junto com o modelo das publicações editoriais. Que lição este episódio ensina, na sua visão?
Alexandre: Principalmente que temos que trabalhar de forma eficiente, enxuta. Não se pode achar que se tem tudo e relaxar, então eu tento sempre avaliar se o que estamos fazendo é o melhor e se estamos com estrutura adequada para seguir fazendo produtos com a qualidade que queremos e alinhada com o que o mercado exige.
GMD: No lado financeiro, os números estão de acordo com o que vocês esperavam?
Alexandre: Sim, mas sempre dá para melhorar. Minha faixa etária, em torno de 50 anos, foi acostumada com esse tipo de conteúdo, mas a geração nova não. Então falar a linguagem deles é o nosso desafio, pois é o que nos fará crescer e, principalmente, garantir nosso futuro.
GMD: Que papel os textos têm na estratégia de vocês?
Alexandre:Sempre digo que o Bella da Semana não é um site de mulher pelada, então todo dia temos atualização de conteúdos, sempre trazendo temas de interesse do público masculino, então o papel é muito importante.
GMD: Planos de futuro, o que vocês estão pensando?
Alexandre: Temos uma plataforma há dois anos, diferente do Bella, que é a concorrente do Only Fans. Acreditamos que isso pode nos levar mais fortemente pro futuro.
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