Ainda desconsideramos a potência da diversidade etária nas organizações. Por quê?
Por Candice Fernandes, Country Manager da Stato Intoo

O mercado de trabalho ainda precisa amadurecer muito quando o assunto é diversidade etária. Apesar do envelhecimento da população ser uma realidade, com 15,6% dos brasileiros tendo 60 anos ou mais, profissionais acima dos 50 anos estão entre os mais preteridos nas contratações, promoções e até mesmo no reconhecimento de suas competências.
O etarismo tem sido um obstáculo poderoso, limitando oportunidades e desperdiçando talentos que agregam muito ao ambiente corporativo.
Este cenário pode ser constatado na pesquisa conduzida pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com o apoio da Stato Intoo. O estudo demonstra que a maioria dos entrevistados tem uma visão positiva dos trabalhadores 50+, considerando-os amigáveis (80,7%), confiáveis (77,3%), generosos (75,8%) e afetuosos (74,4%). Por outro lado, quase metade (44%) afirma que esses profissionais são resistentes a mudanças, enquanto 24% acreditam que eles não são capazes de trazer ideias inovadoras.
Sob o ponto de vista do profissional 50+, essa visão limitante impacta diretamente as chances de recolocação, crescimento profissional e estabilidade no emprego. O mito de que trabalhadores acima dos 50 anos têm dificuldades para acompanhar as transformações tecnológicas é um dos argumentos mais usados, quando, na verdade, a capacidade de aprendizado não tem idade.
A adaptação às novas demandas do mercado não é uma questão de idade, mas de oportunidade, incentivo e protagonismo profissional. Esse viés, contudo, não afeta apenas os profissionais maduros. Na outra ponta, os jovens também sofrem com rótulos de imaturidade, inexperiência e impaciência, dificultando a entrada no mercado de trabalho, integração e oportunidades de desenvolvimento.
A consequência do etarismo é a desconsideração da potência da diversidade etária dentro das organizações. Empresas que misturam diferentes gerações tendem a ser mais inovadoras e resilientes, pois a troca de conhecimento e experiência cria um ambiente mais rico e produtivo.
Como consequência, se destacam nos resultados e como marca empregadora. Dados da mesma pesquisa indicam que 90% dos trabalhadores já aprenderam algo essencial com colegas mais velhos, seja em habilidades técnicas, habilidades sociais ou resolução de problemas. Esse é um ativo inestimável que deve ser explorado.
O combate ao etarismo precisa ser uma pauta prioritária. Para isso, é fundamental que as empresas invistam na diversidade etária como estratégia de negócio. Rever políticas de promoção, criar programas de aprendizagem intergeracional e, sobretudo, combater os estereótipos é essencial.
Entretanto, é preciso construir caminho para que a diversidade etária, que se reflete na diversidade de pensamentos, conhecimentos e experiencias, se consagre como parte da cultura corporativa. Reconhecer que o conhecimento vai se empilhando ao longo da vida e que a combinação de diferentes perfis etários é pilar da inovação e do futuro sustentável das empresas é, sem dúvida, um dos maiores diferenciais no futuro do trabalho.
Candice Fernandes, Country Manager da Stato Intoo, unidade de gestão de carreira da Gi Group Holding, multinacional italiana reconhecida como uma das líderes globais em soluções dedicadas ao desenvolvimento do mercado de trabalho.
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